Neste fim de semana, estive na casa da vovó Ferraz.
Desde muito novinho, me lembro das idas à casa da vovó. Lá é tão bom! É quando me sinto mais a vontade, seguro de mim mesmo, é a minha base. Morei muitos anos lá. Quando mais jovem, lembro-me das poucas possibilidades de uma vida de glamour. Uma vez eu e minha prima, um pouco mais nova, fomos escondidos ao trabalho de vovô. Tínhamos na faixa de 7 anos, ele trabalhava num sítio próximo, um lugar de refugio e brincadeiras, enfrentávamos uma estrada pequena, simples, de terra, com buracos feitos pela chuva, e após enfrentarmos os medos e a solidão da estrada. Havia a certeza que quando chegássemos, avistaríamos a ponte acima do riacho que nos ligaria ao sítio. Eu e ela fomos escondidos e meus tios e vovó estavam muito preocupados. Ao chegarmos no sítio, brincamos de esconde-esconde, nadamos na riacho, comemos frutinhas, corremos na estrada à fora e esquecemos da hora. Em casa a vara já estava nos esperando para um coro de Dó maior. Eu logo me escondi debaixo do berço e depois de levar umas varadas entre as pernas e a vermelhão passar lá ia nós de novo planejar a nova aventura do dia seguinte.
A casa de vovó me traz muitas lembranças, de descobertas, de alertas para a vida, de aprendizagem, carinho, amor, paz e até guerra. Lá tudo acontece, é como os contos de fadas. Um dia o final não foi tão feliz. O dia triste da família, quando uma tia, a mais querida até aquele momento pra mim, veio a falecer.
Foi como se o jardim morresse junto com aquela flor que foi tirada a força entre as demais, e ao perceber que seu perfume se foi as demais flores começassem a murcharem e perder todo o brilho.
Ao passar do inverno com as forças da fotossíntese nós voltamos à primavera, mas nunca iríamos nos esquecer daquele inverno tão rigoroso que todos da família passamos com a ida daquela flor.
Ontem chegou a mais nova flor em nossa família, a Mariana, a mais linda entre as flores do jardim, não só porque és bela como um jasmim, mas a sua inocência e a sua vida fazem nos lembrar no ciclo da vida. Vovó então falou: “Imagina quando ela estiver 20 anos...nem sei se estarei aqui mais...” depois foi minha tia, eu, fazendo calculando a idade, queríamos esquecer...
Família quebra tudo, faz de novo e de novo, são conceitos, pré-conceitos, aceitação, brigas, desentendimentos, abraços, reconciliações... Minha família é grande, e infinita, pois se renova a cada estação. Quando olho as fotos em casa eu a vejo mais que uma entidade, mas o meu porto seguro. É como se a casa da vovó fosse o grande Titanic, belo, grande, há várias as classes de várias pessoas, a diferença é que enfrentamos os icebergs e não deixamos ele nos afundar a diferença é que não temos um capitão, e sim, uma capitã a Dona Ana. Ela é que nos conduz sobre o oceano dia a dia, ano a ano até que chegar a sua estação para descanso, e, sinceramente, espero navegar com ela por mais 10, 20,30 anos...