
M E D O
Não sei como vem, sinto-o de repente. Segundo os estudos, milhares deles por sinal, citam como um “estado”, outros, como “insegurança”, pode ser.
Toma conta de meu peito, de minha aura, ronda-me como um lobo faminto, pronto para devorar-me, fazer de mim estilhaços, tratar-me como carne boa e deixar-me na carcaça. Tremo quando o sinto, fico inseguro quando fica mais forte, se minto, já faço com medo do medo, se sou verdadeiro, tenho a verdade como escudo para proteger-me contra este mal que tenta devorar-me.
Surge de forma inexplicável, comigo é assim, se estou só, tenho-o, se acompanhado, o temo.
Quando na metrópole, quem abita nele me dá medo, do julgamento, do olhar acusador, da maneira débil de meu comportamento, em minha casa, lugar que deveria sentir-me seguro, apontam-me os dedos, como se fosse eu, o caráter desgostoso da família.
Meus olhos estão atentos, minhas mãos frívolas, pés firmados em areia, pronto á ser sugado ao profundo abismo.
A porta; há uma porta? Para que eu possa sair o mundo de total insegurança, de desolação, de ruínas assoladas? Quero paz. Se a tivesse estaria seguro, sem medo.
Há anos a procuro, nunca a encontro, onde ela está? Debaixo dos livros, da cama, na sola de meus sapatos, abatidos e sujos de poeiras? Pra onde foram as mãos bondosas que estendem as mãos quando o necessitado e oprimido pela ignorância passa em suas portas altas cobertas de cobre, seguras de si próprias?
Para achar as respostas teria que ser o grande gladiador, que enfrenta a guerra sem temor, está à frente, não olha pra trás, não se intimida com a ignorância do medo, e quem é o medo diante de tamanha força e coragem deste homem valente? Nada.
Não o sou, sou pobre, não tenho armaduras para sustentar-me, armas para atirar contra os lobos, não sou destemido o bastante para enfrentar o inimigo nu.
Fico preso em uma casa sem moral própria, no mundo de valor insano, aproveitando restos deixados nas prateleiras empoeiradas de minha sala, sendo um zumbi, perambulando pelos cômodos sem janelas.
“A casa onde todos moramos trancafiados, tentativa de dominar pela domesticação a porta sempre aberta do medo, é também ela apenas um lado da abertura cruel na qual se transformou a sociedade. De um lado e de outro, vida pública e privada, casa e rua, poderosos e sem poder, os combatentes de uma guerra de todos contra todos que não informa sobre seu fim. Fechar a porta bastaria para reordenar a vida? O medo não é apenas o sentimento aversivo de algo que nos ameaça em nossa integridade física, moral ou psíquica. O medo, que em tantas línguas é sinônimo de angústia, é conhecido como a sensação que alguém, animal ou humano, tem do perigo iminente. Neste nível o medo apenas me faz fugir do que temo. Porém, a impossibilidade de fugir de algo por situar-se dentro do que provoca a ameaça é o véu mais profundo do medo. O medo está em mim, mas estou antes eu dentro do medo como possibilidade da existência, sua forma.”*
Liberdade é o que quero ter, vida própria busco e a terei, quando aprender a ser o homem quem sou, não deixar que a tormenta alcance meus lagares, assim, sendo eu mesmo, darei conta de enfrentar o obscuro, sem dependência, sem alucinações, farei de minha herança, não oposições débeis, mas as trarei junto como bagagem de uma experiência passada e que moldada trará frutos á árvore da sabedoria.
O medo estará sempre ao meu lado, perseguindo-me e eu estarei preparado para que ele tome forma e me ensine a viver com ele, não para ele.
• Trecho tirado do blog de Márcia Tiburi - Graduada em filosofia e artes. É mestre e doutora em filosofia.
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