8 de janeiro de 2014

Sem Margarina

A família está mais moderna mas continua a enfrentar uma sociedade jurássica que ela mesma constrói 

Brenno Ferraz


Coube-me a árdua tarefa de assistir ao filme Álbum de Família¹ do diretor John Well nesse começo da semana.
Sentei-me na primeira cadeira da penúltima fileira de um multiplex, vazio, por sinal. Começo de tarde, hora do almoço, poderia ser uma boa desculpa pela falta de telespectadores.
Ao começar a sessão fui sugado pela competência e presença de espírito da matriarca da família interpretada pela Meryl Streep, um papel digno de, no mínimo, um globo de ouro. Ela, portadora de câncer de boca e viciada em remédios, busca na subjetividade a força de enfrentar a realidade. Três filhas, um esposo, uma irmã, um genro, enfim, personagens que completam o quadro “família”.
Fui levado a pensar sobre as atitudes que tomamos para proteger, de certo modo, nossa família diante da sociedade. A tão moderna e complacente e volúvel sociedade que nas redes sociais é preconceituosa e indecente ao mesmo tempo, nas ruas, usam burcas para esconder a realidade familiar diante dos demais.
Quem somos quando há um viciado em drogas em casa, um homossexual ou até mesmo um portador de síndrome? Como agimos, quando questionados sobre aquela alienada família mostrada como símbolo  de ordem de decência em propagandas dos anos 40, 50, 60 e até hoje nas de margarinas, felizes, sorridentes, belas?
Protegemos quem amamos, talvez esse seja o instinto animal mais louvável do ser humano.  Já vi mães protegerem seus filhos quando são pegos usando drogas pela sociedade e comportam-se como galinhas, colocando-os debaixo de suas asas e outras, que amam incondicionalmente quando a verdade é posta à mesa em um jantar, como prato frio, tratando-se da sexualidade dos filhos.
Nas escolas, onde deveria ser o meio, porque o princípio é em casa, crianças desde cedo já praticam bullying, quando há uma conscientização sobre o assunto o tempo todo nas mídias e mesmo assim os pais não conseguem absolver e passar para os seus a questão.
Álbum de Família traz à tona o que realmente é uma família e não há momento “margarina” no longa, há uma sensibilidade ao tratar a morte do pai, e o quanto a mulher é forte, é sagaz, capaz de conduzir sozinha uma família e se preciso for carregar uma cruz até o monte e lá se sacrificar por ela.
Todo relacionamento termina, seja por vontade própria, de ambos, do grupo ou devido à morte, mas tratando-se de família ela é incapaz de romper o laço da afetividade, não importa a distância dos membros, eles sempre estarão ligados pelo sangue.

Família é o começo, meio e fim, nela há consolo, mas há também desprezo, amor e ódio, atrito e compreensão, mas o que não pode faltar é respeito. Com ele pode-se enfrentar quaisquer que sejam os ataques da sociedade porque não importa se na sala de jantar, junto de todos, os pratos serão quebrados, não importa os tapas de luvas dados pelo irmão ou pela mãe, as gozações feitas um ao outro, o respeito é a força e a arma para diluir o efeito margarina que os esperam do portão pra fora. 

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