A família está mais moderna mas continua a enfrentar uma sociedade jurássica que ela mesma constrói
Brenno Ferraz
Coube-me a árdua tarefa de assistir ao filme Álbum de
Família¹ do diretor John Well nesse começo da semana.
Sentei-me na primeira cadeira da penúltima fileira de um
multiplex, vazio, por sinal. Começo de tarde, hora do almoço, poderia ser uma
boa desculpa pela falta de telespectadores.
Ao começar a sessão fui sugado pela competência e
presença de espírito da matriarca da família interpretada pela Meryl Streep, um
papel digno de, no mínimo, um globo de ouro. Ela, portadora de câncer de boca e
viciada em remédios, busca na subjetividade a força de enfrentar a realidade. Três
filhas, um esposo, uma irmã, um genro, enfim, personagens que completam o
quadro “família”.
Fui levado a pensar sobre as atitudes que tomamos para proteger,
de certo modo, nossa família diante da sociedade. A tão moderna e complacente e
volúvel sociedade que nas redes sociais é preconceituosa e indecente ao mesmo
tempo, nas ruas, usam burcas para esconder a realidade familiar diante dos
demais.
Quem somos quando há um viciado em drogas em casa, um
homossexual ou até mesmo um portador de síndrome? Como agimos, quando questionados
sobre aquela alienada família mostrada como símbolo de ordem de decência em propagandas dos anos
40, 50, 60 e até hoje nas de margarinas, felizes, sorridentes, belas?
Protegemos quem amamos, talvez esse seja o instinto
animal mais louvável do ser humano. Já
vi mães protegerem seus filhos quando são pegos usando drogas pela sociedade e
comportam-se como galinhas, colocando-os debaixo de suas asas e outras, que
amam incondicionalmente quando a verdade é posta à mesa em um jantar, como
prato frio, tratando-se da sexualidade dos filhos.
Nas escolas, onde deveria ser o meio, porque o princípio
é em casa, crianças desde cedo já praticam bullying, quando há uma conscientização
sobre o assunto o tempo todo nas mídias e mesmo assim os pais não conseguem
absolver e passar para os seus a questão.
Álbum de Família traz à tona o que realmente é uma
família e não há momento “margarina” no longa, há uma sensibilidade ao tratar a
morte do pai, e o quanto a mulher é forte, é sagaz, capaz de conduzir sozinha
uma família e se preciso for carregar uma cruz até o monte e lá se sacrificar
por ela.
Todo relacionamento termina, seja por vontade própria, de
ambos, do grupo ou devido à morte, mas tratando-se de família ela é incapaz de
romper o laço da afetividade, não importa a distância dos membros, eles sempre
estarão ligados pelo sangue.
Família é o começo, meio e fim, nela há consolo, mas há
também desprezo, amor e ódio, atrito e compreensão, mas o que não pode faltar é
respeito. Com ele pode-se enfrentar quaisquer que sejam os ataques da sociedade
porque não importa se na sala de jantar, junto de todos, os pratos serão
quebrados, não importa os tapas de luvas dados pelo irmão ou pela mãe, as
gozações feitas um ao outro, o respeito é a força e a arma para diluir o efeito
margarina que os esperam do portão pra fora.
¹ - veja link http://www.adorocinema.com/filmes/filme-186179/creditos/
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