
Tudo o que escrevo é para você. Mesmo sem compreender, querendo se esconder, ficando na dúvida, querendo me perguntar, é tudo para você. Agora espero está satisfeito.
Fugir. Subir arrisquei-me, sem treinamento, peguei o meteoro e vim parar aqui em Marte. Eles são bons, me receberam bem, me deram sua água, nada potável, diga-se de passagem, ofereceu-me seus manjares, saudades do arroz e do feijão, me abriram os olhos, ajudaram-se com o coração. Não me cobraram nada, nem me julgaram por eu ser assim, terrestre. Bajularam-me, tentando fazer com que eu me esquecesse de você; treinaram-me para eu conseguir respirar o ar que eles respiram, se é que posso chamar isso aqui de ar, entre tudo, essas coisas, o mais importante, é que me amaram, sem pedir nada em troca, me abraçaram, me estenderam suas mãos, olharam em meus olhos, disseram palavras, marcianas, de consolo e fortalecimento para prosseguir. Prosseguir ainda não sei para onde, e eles não questionaram, apenas me serviram. Serviram-me mesmo sendo terrestre.
O que para mim era sorte, para eles, não passava de rotina, o que para mim era magnífico, para eles, simples era.
Entre tantos lugares no universo, entre tantas galáxias e tantos planetas, conhecidos ou
desconhecidos, foi lá que eu fui parar. Destino? Sei lá. Mas mesmo sendo assim, sem rumo, eles me aceitaram. Alto, pálido, sem saber a língua, sem entender-me, mesmo com todas as limitações que se possa pensar, fui aceito.
Como é bom ser aceito, assim, dessa forma, como sou, sem ter que mentir fazer caras e bocas, sem ter que disfarçar ser o bonito, o gentil, o compreensível, sensato, o ingênuo, o bom, o mal, o agradável, apenas sendo eu mesmo, assim, sem perder a essência. Lá na terra é tudo muito complicado, não que o complicado seja todo ruim, ele é até razoável, porém é complicado viver essa complexa complicação do ser o que o outro quer que eu seja a todo o momento. Os terráqueos são assim, gostam do diferente, mas não quer fazer a diferença, estranho isso, mas é assim mesmo
Que sorte a minha, repito, em Marte, nesse lugar vermelho, bonina, me faz tão bem! É aqui que sou eu no mais eu, sem ser eu no outro. Sem ter que pagar o imposto para que venham as eternas CPI's, os IPVA's e IPTU's'e etc... e mesmo pagando, lá na terra, tenho que engolir seco, aqui em Marte tudo é bonina até no pagamento, paga aquilo que for justo, um para um e dois para dois.
Ser terrestre não é fácil, até escrever eu escrevo para outras pessoas, mas como hoje estou em Marte, escrevo para mim. Ah! Como é bom escrever para mim, sem essa de tudo que escrevo é para você, aqui sou livre, tenho minha própria identidade, fui aceito, o baseado aqui não é proibido, como em maioria dos lugares na Terra, não faltam Marcianos machos e nem Marcianos fêmea, mesmo assim, se respeitam as diferenças e se por acaso o macho amar o outro, é festa, pois ele vive para ser feliz, não há o poder, todos têm poder sobre si, pois há respeito mútuo.
Por isso quero viver lá, em Marte, pois neste mundo entre tantos outros, que sorte a minha! Entre tantos, esse encontro, esse amor, essa descoberta, só poderia ser lá; em Marte. Posso viver o meu EU para eu mesmo.
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